terça-feira, 15 de março de 2011

OPINIÃO: EDUCAÇÃO, CIDADANIA E CONSUMO

''As crianças saem da escola sabendo resolver equações álgebras, porém, não sabem comparar e entender taxas de juros de interesse das empresas'', afirma Maria de Lourdes Coelho

* Maria de Lourdes Coelho
A ideia de desenvolver um Projeto de Educação Consumerista tem origem no surgimento do “analfabetismo do consumidor”, que mostra a falha de muitos sistemas de Educação na preparação dos estudantes para o mundo real.
As crianças saem da Escola com habilidade para escrever um ensaio sobre Napoleão, mas não sabem escrever uma simples carta a um fabricante de bicicletas que apresentam defeitos; sabem resolver equações álgebras, porém, não comparam e entendem taxas de juros de interesse das empresas.
Esta Educação inapropriada causa danos entre as pessoas nos países em desenvolvimento. A grande maioria ignora o que são direitos e responsabilidades, também desconhecem como se exerce o controle social e sua inserção no sistema. Esta Educação desligada da realidade do cidadão dá vazão ao analfabetismo do consumidor, representando uma transgressão da dignidade humana e a destruição dos direitos sociais e econômicos.
Reconhecendo esta Educação errônea, organizações mundiais de consumidores promovem aEducação consumerista como uma resposta essencial às necessidades reais dos consumidores numa sociedade global tecnicamente avançada.
Mas não só as entidades de defesa do consumidor devem desenvolver e estimular Programas de Educação para o Consumo.
Os governos que se consideram democráticos têm o dever legal e ético de oportunizar um projeto educativo que possa encorajar as pessoas a agirem como consumidores capazes de fazerem escolhas adequadas, conscientes de seus direitos e responsabilidades.
Observando-se que em tais projetos deve ser dada uma especial atenção às reais carências de consumidores nas áreas urbanas e rurais, incluindo consumidores de baixa renda e aqueles de níveis baixos ou inexistentes. Projetos específicos de área rural devem ser capazes de mobilizar o consumidor no sentido de fazê-lo pensar a questão do meio ambiente, turismo rural agregado e outros.
Da mesma forma, observamos que a preservação ambiental é responsabilidade também urbana. Não se trata simplesmente de criar uma nova disciplina, mas fazer com que temas como escolhas do consumidor, propaganda, dinheiro, poder de compra, saúde e hábitos de consumo sejam inseridos nas disciplinas já existentes.
Estaremos assim indo ao encontro de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN-MEC), oportunizando ao  aluno /consumidor compreender a cidadania como participação social e política e perceber-se integrante e agente transformador da realidade social de nosso país.
Somente dessa forma poderemos realmente celebrar o Dia Mundial do Consumidor. Entretanto, é necessário um novo olhar para as relações de consumo, ou seja, o cumprimento de nossos deveres e direitos, principalmente o Direito de Educação e de Informação.
Sabemos que o consumidor que não tem acesso ao conhecimento está realmente excluído do processo social. Citando Gabriel Marcel, “vivemos num mundo que parece construído sobre a recusa de pensar, do refletir”.
O homem esqueceu do seu ser para se concentrar no ter. Nessa relação com o mundo, o homem passa a consumir e a ser um objeto do consumo, e não um sujeito de ação. Sentimos, então, cada vez mais a necessidade de uma Educação para a relação de consumo.
Com certeza, a vida Escolar se enriquece com a introdução de conteúdos contemporâneos. O aluno passa a se interessar pelo assunto; o professor se renova.
Contudo, não se trata de criar nova disciplina, mas de buscar recursos (fundamentação teórica e experiências concretas) no cotidiano para que o professor possa construir com seus alunos critérios para formar um cidadão mais crítico, mais atuante, que lute por seus direitos e tenha consciência de seus deveres, buscando assim encontrar respostas para sua própria satisfação.
*Diretora do Centro de Educação do Consumidor

Fonte: Zero Hora (RS)

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