Para evitar gastos, desperdício e ensinar o consumo consciente aos filhos, pais de alunos de escolas particulares de São Paulo têm organizado feiras para trocar livros, material escolar e até uniformes. Na Vila Madalena, zona oeste da capital, a Organização de Pais Solidários da escola Vera Cruz prepara para os dias 26, 27 e 28 de janeiro uma feira de distribuição dos materiais coletados ao longo de 2010. São livros didáticos, paradidáticos, pastas coloridas com o logo do colégio e uniformes.
Foto: Marina Morena Costa
Posto de coleta de doações na escola Vera Cruz
A ideia, batizada de Troca Solidária, começou no ano passado com poucos participantes. O projeto ganhou força em 2010 e arrecadou cerca de 200 livros didáticos, 100 pastas além de uniformes infantis. Denise Durand Kremer, mãe dos alunos Rafael, de 6 anos, e Sofia, 9, é uma das organizadoras da Troca e conta que o projeto foi motivado “pelo momento que o planeta vive” e para recuperar o sentido do coletivo. “Todo ano compramos toda a lista de material e livros, muitas vezes sem necessidade. Há um glamour em ter todo o material novo que é pura falta de consciência”, avalia.
Com o apoio da escola, a Organização de Pais Solidários enviou e-mails, distribuiu cartazes e pontos de coleta de material nas unidades do Vera Cruz. Os pais também promoveram palestras e discussões com a preocupação de estimular em seus filhos uma visão mais econômica e sustentável do mundo.
Foto: Marina Morena Costa Ampliar
Fernanda Salles explica para Glayds Atchabahian quais materiais podem ser doados
Glayds Atchabahian soube da iniciativa ao buscar na escola o filho Caio, de 6 anos. “Reciclagem é comigo mesma. Sinto que as coisas não se perdem. O que não serve mais pra gente serve para outras pessoas ou pode ser reciclado”, lembra. Daniela Padilha, mãe de Maria Clara, de 8 anos, participa da Troca Solidária e conta que a prática é uma rotina em sua casa: “Minha filha entende e é super atuante. Não só com o material escolar, mas com roupas e brinquedos também. Se não usa mais, ela passa adiante”.
Para Fernanda Salles, membro da Organização de Pais Solidários e uma das responsáveis pelo plantão de arrecadação dos materiais, a família e a escola devem trabalhar o consumismo. “Consumir com consciência precisa ser ensinado. O que se ensina na porta da escola é tão importante quanto o que é passado dentro de sala de aula”, aponta.
Perdidos valiosos
Casacos de grife, aparelhos eletrônicos, estojos repletos de canetas novas, livros didáticos abandonados. Um achados e perdidos extremamente rico e cada vez mais encorpado. Diante do pequeno cômodo embaixo de uma escada, repleto de materiais valiosos, Vilma Martins percebeu que havia algo fora da ordem na Escola Nossa Senhora das Graças, no Itaim Bibi, onde seu filho estuda. “Não acho normal um livro de R$ 100 ficar largado, esquecido o ano inteiro. Levei essa reflexão para os pais, para que eles se conscientizassem e discutissem com os filhos sobre o valor dos pertences”, conta.
Da indignação diante do abarrotado achados e perdidos, surgiu o LivroLivre. A Organização dos Pais do Gracinha (como a escola é chamada) criou o projeto de arrecadação de livros didáticos e paradidáticos. “O foco é o consumo consciente e a economia que os pais farão é um acréscimo. O mais importante é a reflexão sobre a utilização do material”, completa Maria Cecília Cesar Schiesari, membro da associação.
A escolha do nome e do logo do projeto foram feitas pelos alunos do Gracinha. O projeto arrecadou 2.300 livros ao longo de 2010, que serão distribuídos gratuitamente em uma feira no próximo dia 11 de janeiro. Cerca de 800 livros que não estão na lista de material foram doados para uma biblioteca mantida pela escola no Jardim Angela, na periferia de São Paulo.
Associações em escolas particulares de São Paulo promovem feiras de livros usados para discutir o consumo e, de quebra, economizar
Marina Morena Costa, iG São Paulo | 08/01/2011 07:05
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